Como se tivesse havido um importante milagre, os conflitos pela posse da terra no Maranhão desapareceram das denúncias e dos debates do Movimento Sindical Rural e no caminho da missão profética a Comissão Pastoral da Terra, com dificuldades cada vez maiores vem dando o seu testemunho de gritar e pedir socorro pelos pobres e oprimidos do campo. Numa luta cada vez mais desigual, e com os políticos unidos com grileiros, latifundiários e empresários do agronegócio para expulsar trabalhadores e trabalhadoras rurais das suas posses centenárias, utilizando o aparelho policial do Estado e os casos de benevolência da justiça proporcionam a que, a fome, a miséria e exclusão social avancem em todos os rincões do Maranhão.
A Comissão de Direitos Humanos da Seccional do Maranhão da Ordem dos Advogados do Brasil é um dos poucos aliados com que a Igreja Católica conta para fazer a defesa dos direitos e da dignidade humana de milhares de famílias dos mais 75 municípios que são vitimas de perseguição. No ano passado foram registrados mais de 194 conflitos e 13 mortes fizeram parte do registro da CPT Nacional, contando com o envolvimento de 31 mil famílias.
Recentemente os 13 bispos que compõem o Episcopado Maranhense foram recebidos pelo governador Flavio Dino no Palácio dos Leões. Um dos problemas que prendiam abordar estava o aumento considerável dos conflitos, mas a equipe de governo procurou evitar clima para a discussão do problema, muito embora o Arcebispo Dom José Belisário, tenha registrado com contundência vários aspectos inerentes a politicas sociais no meio rural e outras questões que criam desigualdades no campo. O Palácio dos Leões tentou mudar o foco da visita dos bispos e foi de uma fragilidade tão insignificante, naturalmente por desconhecer que todo o episcopado maranhense é bastante informado e tem análises bem precisas da conjuntura politica, econômica e social de todo o Estado do Maranhão, com dados bem precisos e sem qualquer manipulação, afirmo com plena certeza, uma vez que por quase 10 anos fui jornalista colaborador da Comissão Pastoral da Terra.
Os problemas pela posse da terra no Maranhão são bem antigos e tomaram proporções sérias com a corrupção deslavada implantada dentro da Superintendência do INCRA no Maranhão pelo Partido dos Trabalhadores. Os sonhos de desapropriações e regularizações fundiárias de milhares de famílias de trabalhadores e trabalhadoras rurais foram atropelados pelos gestores com negociações vergonhosas e desvios de recursos federais, daí que alguns dos ex-superintendentes são réus da na Justiça Federal e outros pilantras que prejudicaram terrivelmente as comunidades quilombolas.
As informações que procuram dar dimensão para a agricultura familiar como se fosse uma realidade em todo o Estado, não corresponde a realidade. A assistência técnica e extensão rural no Maranhão, desde que foi extinta pela ex-governadora Roseana Sarney, nunca mais foi recomposta, muito embora tenha havido alguns esforços do governador Edison Lobão. A grande realidade é que os conflitos retiraram milhares de famílias das suas posses seculares e o impedem de retirar da terra com o próprio suor, o alimento de cada dia.
Ao cooptar o Movimento Sindical Rural para integrar a administração da sua administração, o governador Flavio Dino, conseguiu se livrar das constantes denúncias e dos Gritos da Terra, que eram uma espécie de fermento e esperanças de milhares de trabalhadores e trabalhadoras rurais.
Atualmente, quem vem abastecendo o mercado de São Luís até com o cheiro verde, são os produtores do Ceará, além de outras verduras e hortaliças. Produção maranhense e que a maioria não recebe assistência técnica do governo é o abacaxi, que está em plena safra, principalmente o do município de Turiaçu, que por não apresentar muita resistência não consegue chegar aos grandes mercados do país.
Infelizmente, o Maranhão é um grande produtor de grãos para a exportação, inclusive pouco ou nada é industrializado no Estado, e que gera empregos sazonais e não proporciona desenvolvimento. Se formos avaliar o consumo de alimentos em todo o Maranhão, começando de São Luís, mais de 95% é importado dos estados vizinhos, dentre os quais Ceará, Pará, Paraíba, Sergipe e Pernambuco.
O discurso da agricultura familiar deve continuar, mas a verdade é implacável e a fome e miséria não é maior em razão do programa Bolsa Família.