Ao tentar “fatiar” as ações da Controladoria Geral da União, o Governo Federal cria facilidades para a corrupção.
Nesta quinta-feira (1º de outubro), a partir das 9h, os servidores da Controladoria-Geral da União do Estado do Maranhão realizam protesto na frente do órgão contra a proposta do Governo Federal de retirar o status de Ministério da CGU, fatiando suas atribuições entre a Casa Civil e o Ministério da Justiça.
De acordo com a Associação Nacional dos Auditores Federais de Controle Interno (ANAFIC), em tempos de crise, com recursos escassos, os gastos dos ministérios estão sofrendo cortes, inclusive em áreas sensíveis, como a educação e a saúde. Porém, um gasto de bilhões e bilhões de reais, e que não traz retorno à sociedade, está sendo ignorado: o gasto da corrupção.
”Certamente a redução da corrupção pode evitar maiores contingenciamentos nas ações governamentais e, portanto, diminuir os sacrifícios da população. Para isso, é fundamental o fortalecimento dos mecanismos de combate à corrupção. E essa é a principal área de atuação da Controladoria-Geral da União. Uma série de desvios, como os da Petrobrás, poderiam ter sido evitados com uma CGU mais atuante. Seguindo esse exemplo, apenas um dos gerentes-executivos dessa empresa devolveu aos cofres públicos o valor de US$ 100 milhões, valor que pode custear todas as despesas da CGU por cerca de 6 meses, em todo o território nacional. Porém, em relação à CGU, o atual Governo está andando a largos passos em sentido contrário ”, destaca nota encaminhada à imprensa pela ANAFIC.
A Controladoria-Geral da União é conhecida pelas suas ações efetivas no combate à corrupção em todo o território nacional, tais como a fiscalização dos municípios por sorteio, demissão de cerca de 4.300 servidores públicos, sendo a grande maioria por corrupção, além de operações conjuntas com a Polícia Federal e Ministério Público, entre outras ações. Porém, o que se vê no Governo Dilma é o enfraquecimento sistemático da CGU, conforme se segue:
1. Redução orçamentária ano após ano
Apesar de ter um dos menores orçamentos da Esplanada, sendo comparável, por exemplo, à Secretaria de Política para as Mulheres (despesas com exclusão da folha de pessoal), a CGU vem recebendo cortes seguidamente. E isso tem reduzido drasticamente a atuação do órgão e, portanto, aberto um caminho para o aumento real da corrupção. Exemplo: a maioria das ações de fiscalização nos municípios está deliberadamente restrita às cidades onde se pode ir e voltar no mesmo dia, para reduzir gastos com diárias e combustível.
2. Redução do número de servidores
Já em 2009, a CGU tinha previsão para 5.000 vagas para servidores efetivos, e apenas 2.665 ocupadas. Com a ausência de concursos públicos, esse quantitativo caiu ainda mais, chegando aos atuais 2.232 servidores.
3. Falta de Lei orgânica
Apesar de lidar com áreas sensíveis, a CGU não possui uma lei orgânica própria, o que deixa a sua existência à mercê do Chefe do Poder Executivo, além de implicar em menor autonomia.
4. Perda de status de Ministério
Agora, como golpe fatal, está sendo noticiado pela imprensa que o Planalto vai retirar o status de Ministério da CGU, transformando-a em Secretaria. Ou seja, uma Secretaria vai auditar e recomendar aos Ministérios, que serão hierarquicamente superiores a ela. Isso vai gerar uma redução significativa de eficiência e, novamente, de sua autonomia. Além disso, não será mais possível realizar a demissão de servidores públicos corruptos pelas vias administrativas (como os 4.300 já citados), pois essa competência é exclusiva de Ministro de Estado.
Alguns dados que demonstram o que vem sendo feito à CGU no atual Governo (dados extraídos dos Relatórios de Gestão da CGU publicados no site da CGU e do TCU):
Avaliação da execução de programas de governo:
2011 – 3.902 ações
2014 – 1.192 ações
(redução de 69,5%)
Ações Investigativas:
2011 – 1.361 ações
2014 – 592 ações
(redução de 65,5%)
Programa de sorteios públicos:
2011 – 1.975 ações
2014 – 1.090 ações
(redução de 44,8%)
Servidores efetivos vinculados à CGU:
2009 – 2.665 servidores
2014 – 2.232 servidores
(redução de 16,3%)
