Manifesto pela Salvação de São Luís

          Manifesto de conclamação aos diversos setores da Sociedade Civil e do Poder Público do Estado e do Município de São Luís em favor da Praia Grande, símbolo dos mais expressivos do patrimônio histórico da Cidade.

           Até quando mereceremos, silenciosos e constrangidos, a humilhação da pergunta pronunciada por um pensador estrangeiro de passagem por São Luís: “Que elite é esta – de que os senhores, de qualquer forma, fazem parte -, a qual não tem compromisso sequer com o dever de cuidado com a cidade-tesouro onde nasceu, respira, existe e convive?”          

              Como esquecer a declaração do técnico de Organismo Internacional – que percorreu a América do Norte, a América Central e a América do Sul, visitando todo as cidades históricas, para discorrer sobre a situação do seu patrimônio arquitetônico e cultural -, a dizer não haver nada, em termos de relevância, comparável a São Luís, portal dos Lençóis Maranhenses, lamentando, todavia, o descaso com o qual é tratada, sob a crescente ameaça do estado de ruína?

             Como ignorar o casal de juristas viajante do mundo, peregrino dos seis continentes, deslumbrado por São Luís, ponderando que seria legítimo, por amor à beleza, até mesmo fechá-la e cobrar ingresso para que o turista pudesse visitá-la?! porém, lastimando a desconsideração com a qual regressistas e progressistas, nisto iguais, a tem tratado, sobretudo quanto ao centro histórico e ao centro do centro arquitetônico, chamado Praia Grande, onde a cidade nasceu?

            Irresignados, nos pronunciamos não apenas contra, mas, sobretudo, a favor.  Contra o decreto de morte, acentuado na última década, com a retirada e/ou o abandono das instituições ali existentes, do que são exemplos deploráveis, o Centro de Criatividade Odylo Costa, filho, a Secretaria da Cultura do Estado do Maranhão, a Defensoria Pública do Estado do Maranhão, o Museu do Reggae e a Casa de Nhozinho e, sem exaurirmos a matéria, o Centro de Cultura Popular Domingos Vieira Filho.

A favor, contudo, da superior compreensão de que a cidade-patrimônio é mercado, é negócio, é turismo, ou seja, indústria democrática com sentido social, do que os Jogos Olímpicos de Paris 2024 são modelo, não podendo São Luís esfarrapar o seu presente e incinerar o seu futuro, cavando a sepultura do seu próprio patrimônio histórico, arquitetônico e cultural.

               Propositivos, reclamamos a lembrança de que o esvaziamento da Praia Grande é o reverso do sonho de Bandeira Tribuzi, defensor da ideia da

instalação da Universidade do Maranhão exatamente nela, a mais antiga semente urbana, hoje exposta e vulnerável, objeto de violência sem-fim.

Assim, pugnamos para que os candidatos a Prefeito de São Luís venham a público e assumam compromisso, em pensamentos, palavras e atos, com a defesa da cidade-monumento e, em especial, com a traída e saqueada Praia Grande, entregue à própria falta de sorte.

Advogamos que políticas públicas de estímulo á economia criativa sejam sediadas no Centro Histórico de São Luís, com destaque para a Praia Grande e para o Desterro. Em tempos em que todo silêncio é eloquente, convidamos os Centros Universitários, as Faculdades isoladas, enfim, as Universidades Privadas, a ocuparem a Praia Grande e o Desterro, ali desenvolvendo as suas atividades pedagógicas e/ou comunitárias.

               Neste sentido, chamamos ao palco, para que não permaneçam abstêmios, Conselhos, Academias, Institutos e demais organizações congêneres, a se juntarem a outros organismos da Sociedade Civil. Todos, em solidária união, haverão de romper com a inércia, o arreceio e a passividade, para que participem da criação do Observatório Histórico, Cultural e Arquitetônico da Cidade de São Luís, sob a solar compreensão de que os direitos culturais são direitos exigíveis, difusos e coletivos, oponíveis à morte da memória citadina, estadual e nacional, como filosofou Franklin de Oliveira.

       Finalmente, incitamos a todos, tanto aos detentores, na Sociedade Política, de autoridade pública, quanto aos protagonistas da Sociedade Civil, com sua autoridade moral, para que despertem, dialoguem e renasçam, superando a mistificação, a desídia, a desrazão, a irresponsabilidade, o abandono e o desapreço à cultura, cerrando fileiras em torno da salvação da cidade-tesouro, cidade-monumento e cidade-patrimônio.

        Sigamos, juntos, nesta faina cidadã e democrática de fazer reviver o Centro Histórico de São Luís, alma mater das mais caras tradições da cultura e do espírito ludovicense!

São Luís, 1º. de agosto de 2024.

Luís Augusto Cassas; Sergio Victor Tamer; Rossini Correa; Rita Benneditto; Regina Faria; Aziz Santos; Ruy Palhano, etc.

 

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