Raquel de Queiroz: “O voto é a única arma de que dispõem os que não têm outras armas”

           

    No conturbado cenário eleitoral de 1950, a cronista brasileira publicou série de textos, e um especial voltado às eleitoras.

O voto é a única arma de que dispõem os que não têm outras armas – nem dinheiro, nem poder, nem amizades políticas.
Raquel de Queiroz

Estávamos em 1950. A perda para o Uruguai na Copa do Mundo, jogando em pleno Maracanã, pesava fundo no coração dos brasileiros. Mas o cenário político iria se sobrepor à tragédia futebolística no segundo semestre: aproximavam-se as eleições. Há poucos anos o país tinha se despedido da ditadura de Getúlio Vargas. Com o fim do governo Gaspar Dutra – um militar -, o Brasil vivenciava a carência de líderes políticos nacionais.

 

Na revista O Cruzeiro, a escritora e cronista emérita Raquel de Queiroz produziu uma série de textos sobre o período eleitoral. Em um deles, enalteceu a força e o poder que recaía sobre o voto de cada brasileiro: “Votar é uma questão de consciência e, acima de tudo, uma questão de sobrevivência.” (Eleições I, 15 de julho de 1950*)

Um dos mais belos textos, porém, foi dirigido a um público especial: as mulheres. A recém-elaborada Constituição de 1946, que entre as medidas adotadas, restabeleceu os direitos individuais, o fim da censura e da pena de morte, constava que “o sufrágio é universal e direto”. Raquel de Queiroz deu seu recado, em crônica publicada em O Cruzeiro no dia 29 de julho daquele ano (Eleições III*): “No momento atual a política é o único motivo que realmente interessa a todos nós brasileiros.” E para as eleitoras dirigiu-se:

                   “Hoje todas somos eleitoras. E temos todas os nossos partidos; umas mais conservadoras, outras mais liberais, outras admitindo ou desejando um socialismo mais ou menos moderado. E há também as mulheres que desejam a volta de certo homem e de certo regime, do qual, por misteriosas razões, não se desiludiram, durante os longos quinze anos da presença dele no poder. (…)

                     A essas mulheres venho prevenir que votem nesse homem – digamos logo o nome dele – que votem em Getúlio Vargas – se querem novamente ver no Brasil um governo de força. E que não pensem que, pelo simples fato de ser eleito num pleito democrático, um antidemocrata visceral pode mudar as suas convicções e se congir aos limites que lhe marca a Constituição.

                    Lembrem-se de que as mais livres eleições do mundo podem entregar o poder a um ditador. A maioria dos golpes de estado são dados por aqueles que, protegidos pelas suas imunidades legais, podem preparar a conspiração com segurança, e quando o povo se apercebe das manobras, já é tarde.”

Em 3 de outubro de 1950 Getúlio Vargas foi eleito presidente da República. Atualmente, para o pleito eleitoral que se aproxima, conforme dados do TSE, a maior parte do eleitorado brasileiro pertence ao gênero feminino. Ao todo, são 77,3 milhões de eleitoras, o que representa 52,5% do total. Já o gênero masculino reúne 69,9 milhões de cidadãos, representando 47,5% do eleitorado.

Fonte: Migalhas

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