Morrer antes de morrer, a depressão em meio à pandemia

Desde março, com o início da quarentena no Brasil, com as aulas, o comércio e serviços públicos suspensos, venho observando o impacto disso no meu próprio comportamento e no dos meus parentes, amigos e clientes. A primeira semana pareceu umas férias fora do tempo. Mas, com a avalanche de notícias, a ficha logo caiu. Estrelando em todos os canais de televisão, o novo coronavírus, o vírus mutante, presente em diversos países do mundo. Pronto, a aldeia global que interliga a todos nós a partir das redes, nos informa que o nosso corpo pode ser tomado por um vírus?

Espera aí, tem certeza que não é no computador?

Depois de 15 dias em casa, o medo e a ansiedade vieram nos fazer companhia. Passei a atender as “panicados” com terapia online. Houve um aumento significativo nas queixas de ansiedade, depressão, síndrome do pânico, fobia social e transtorno obsessivo compulsivo.

Perguntei para os meus pacientes, se eles temiam a morte própria ou a de um parente e, surpreendentemente, a maioria respondeu que não. Temiam sim a falta de liberdade, o afastamento físico dos amigos e parentes, a vida escolar ou profissional interrompida, o tédio do confinamento em casa, a chatice do teletrabalho ou telescola, a falta de atenção, de concentração e de rotina. Mas, o fator que mais incomoda a todos, são as rixas políticas. A divisão direita e esquerda parece tomar boa parte do tempo e da energia das pessoas. Muitos atuam ativamente em grupos e nos movimentos de rua. Para outros, o tema virou obsessão, gerador de sofrimento e tema de terapia.

No meu pequeno experimento, posso inferir que as pessoas conseguem aceitar a pandemia por achar que está fora do controle delas. Já, as divergências políticas lhes causam profundo desgostos, desilusões, desesperança e falta de fé no futuro. Posso assegurar que temos dois grandes problemas de alta magnitude: a pandemia e o pandemônio político. Pois,o povo, além de ter que enfrentar o medo da morte, a dor de perder os parentes, perda do emprego, medo de ficar pobre, de faltar comida… tudo acontece em meio a uma crise política e econômica jamais vista. O nível de insatisfação e infelicidade geral é preocupante.

De acordo com a pesquisa Global Happiness Study, divulgada pela Ipsos em agosto de 2019; o nível de felicidade do brasileiro está abaixo da média global.

Pesquisa Ibope (2019) mostra que a cada ano, em média, 11 mil pessoas se suicidam no País, hoje, um brasileiro se suicida a cada 46 minutos. Ainda não há números sobre o adoecimento da população por conta da pandemia. A realidade pode ser bem mais dramática, pois, em menos de um mês, tomei conhecimento de 04 jovens que tiraram a própria vida, só aqui na minha cidade.

Idosos também envelhecem sem dignidade, veja o caso do brilhante ator, que escolheu sair de cena pelas próprias mãos, e deixou escrito: “a humanidade não deu certo.” “cuidem das crianças de hoje.” E aí cabe-nos perguntar: acaso estamos fracassando como humanidade? Não estamos sendo dignos de cuidar das nossas crianças e jovens, de dar-lhes boa base de amor e segurança, para que se tornem adultos resilientes. Todas as nossas instituições estão em crise: a família, o Estado, o País. E, também o Mundo. O que será de nós? Se não temos nem mesmo uns aos outros? Estamos divididos em categorias direita e esquerda. Incapazes de perceber que esse desgaste, além de afetar o nosso sistema imunológico, que enfraquece quando nos sentimos negligenciados, abusados e mal amados, nos predispõe a doenças diversas.

Se por um lado, não há ainda remédio certeiro para curar do coronavírus, por outro lado, podemos afirmar que há um muito eficaz para atenuar ou curar as dores da existência e evitar a morte antes da morte. Trata-se do amor humano, remédio gratuito, que nos fortalece quando sentimos e exprimimos amor ou atenção sinceros. Uma via de mão dupla que beneficia quem dá e quem recebe.

O que a sociedade precisa aprender com crise na saúde, que não basta não morrer. É preciso saber viver.

Não basta salvar o corpo a força. Para muitas pessoas:

Morrer antes de morrer é sentir a alma distante

Morrer antes de morrer é achar que ninguém se importa

Morrer antes de morrer é perder a capacidade sonhar

Morrer antes de morrer é perder a fé no ser humano

Morrer antes de morrer é perder a fé em si mesmo

Contudo, amor humano ainda é o maior ideal contemporâneo.

Entendamos por ideal algo pelo qual as pessoas estão dispostas – ou dizem estar dispostas – a morrer. Só por amor vale a pena morrer. Só por amor vale a pena viver!

Bernadete Freire Campos

Psicóloga com Experiência de mais de 30 anos na prática de Psicologia Clinica, com especialidades em psicopedagogia, Avaliação Psicológica, Programação Neurolinguística; Hipnose Clínica; Hipnose Hospitalar ; Hipnose Estratégica; Hipnose Educativa ; Hipnose Ericksoniana;

 

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