Que no Vaticano e, em parte, também na Conferência Episcopal Italiana (CEI), algo mudou, ao menos no vocabulário, ficou evidente durante a manifestação pela escola (“A Igreja pela escola”), promovida pelo CEI no último sábado à tarde, na Praça de São Pedro: no discurso do Papa Francisco, não houve nenhum pedido de financiamento público para a escola católica, como se ouvia muitas vezes nos discursos do Papa Ratzinger.
A reportagem é de Luca Kocci
Quase paradoxalmente, quem falou de escola privada, além do cardeal Bagnasco, foi a ministra da Educação, Giannini, que interveio na Praça de São Pedro, dizendo que se encontrava “em uma classe especial para uma lição especial”, indicando que o sistema escolar italiano – como, aliás, sancionado pela lei de Luigi Berlinguer – é constituído por “22.500 escolas estatais e privadas que abrem suas portas para oito milhões de estudantes e professores”, e reiterando a necessidade de “garantir a liberdade de escolha para as famílias”.
E a ministra também falou na Rádio Vaticano sobre a vontade do governo de investir na escola estatal e na privada: “A liberdade de escolha educativa é um princípio europeu fundamental a ser implementado concretamente no nosso país”, onde “ele permaneceu sempre desatendido. A escola italiana é um sistema público feito de duas pernas: estatal e não estatal. Há uma responsabilidade política do governo de dar o espaço certo, como prevê a lei e a Constituição (mas Giannini se esquece de que também está escrito “sem ônus para o Estado”), a uma liberdade de escolha educativa, para que os nossos estudantes encontrem uma melhor qualidade e a mais próxima à sensibilidade das famílias dos estudantes”.
O ministério, dentre outras coisas, decisivamente promoveu a iniciativa desse sábado, enviando, no dia 5 de maio, uma circular a todos os escritórios escolares regionais: “No sábado, 10 de maio, o Papa Francisco vai se encontrar com o mundo da escola”, afirma a nota do Ministério da Educação. “É um evento que não tem precedentes na história da Igreja e da escola italiana. A participação é aberta a todos, e não está previsto nenhum ingresso para o acesso à praça. Todas as informações estão no site http://www.lachiesaperlascuola.it” (ou seja, o site elaborado pela CEI para o evento).
Na praça, nesse sábado, havia 300 mil pessoas, principalmente professores e estudantes, a maioria das escolas católicas. Até porque, como relatam alguns professores de diversas instituições católicas – dos colégios da Roma “bem de vida” aos centros de formação profissional das periferias –, foram “calorosamente convidados”, alguns até forçados, a participar da iniciativa por reitores e diretores.
A manifestação havia sido lançada pelo cardeal Bagnasco durante o Conselho Permanente da CEI do fim de janeiro, com tons bastante reivindicativos. Imediatamente “corrigido” por Dom Galantino, o novo secretário da CEI, recentemente nomeado pelo Papa Francisco: “Não queremos que o evento seja uma manifestação pela escola católica”.
Essa diversidade de linha também veio à tona nesse domingo. Galantino, entrevistado pela Rai1 (que transmitiu o evento ao vivo), reiterou que a iniciativa não era para “pedir dinheiro”. Ao contrário, Bagnasco, no discurso, destacou, modificando de improviso o texto escrito divulgado: “A liberdade dos pais de educar seus filhos é um direito sancionado pelo nosso país, mas também um dever a ser garantido e promovido pelo Estado”.
Nem mesmo uma menção à escola católica por parte de Bergoglio, que falou – citando até o padre Milani – da escola como lugar de “abertura à realidade”, de confronto e de “encontro” com pessoas diferentes “por idade, cultura e origem”. Isso significa que a Igreja pretende renunciar à batalha pela defesa e pelo financiamento da escola católica? Certamente não. Mas é a confirmação de que, assim como em relação aos outros “princípios inegociáveis”, os tons reivindicativos e de cruzada do passado foram postos de lado.
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